É sempre assim. No principio de um novo ano, fazem-se análises, previsões, emitem-se opiniões, enfim ... é a normalidade num contexto de anormalidade. As opiniões porque são sempre os mesmos a tê-las são as que fomos ouvindo ao longo do ano - normalidade. A melhoria expectável, esperada, que todos os dias entra pela nossa casa adentro, através da televisão, alimentando uma visão ilusória do nosso bem estar futuro, é o entretem do nosso dia a dia - anormalidade.
Neste momento está em cima da mesa das discussões económicas o Orçamento Geral do Estado, o que me faz recuar cerca de 20 anos e relembrar-me uma intervenção minha no FORUM PICOAS em defesa da continuação da Nacionalização do Banco Totta & Açores. Era nessa altura elemento da Comissão Sindical daquele Banco. Dizia eu na minha intervenção que a Privatização da Banca iria no futuro trazer dificuldades na organização do OGE porque este iria perder uma fatia significativa das receitas vindas da Banca Nacionalizada e apontava números que hoje não me lembro, especificando o valor com que o BTA tinha contribuido por essa altura e de um modo amplo a verba de toda a Banca.
O tempo actual torna a minha convicção daquela época como válida e como indiscutivel. As medidas sociais que entretanto existiam têm vindo aos poucos a serem absorvidas pela crise, previsão, aliás, que eu tinha feito nessa minha intervenção, por isso nada me admira o que hoje se passa em termos económicos e a propagação que se faz da divida pública. Outra coisa não podia deixar de acontecer com a perda de receitas.
O que está a acontecer em termos internacionais no aspecto económico e financeiro, tem a ver com as medidas de ordem política que os governos têm vindo a tomar desde que se iniciou o processo da globalização, processo que tem influenciado de forma negativa o bem estar das populações. A globalização é mais um esquema do que uma solução para a crise que o capitalismo atravessava e atravessa, por isso a condição social tem sofrido forte revez desde então. Até os países como a Suécia, Finlândia, Dinamarca, Noruega, por exemplo, que tinham magnificas medidas sociais para as suas populações, estas têm vindo a perde-las de forma assustadora. Os países por força de toda a envolvência que a actual conjuntura politica determina têm entregue ao grande capital os principais vectores económicos para exploração em causa própria.
Em Portugal, e isto para voltar à minha intervenção no Fórum Picoas, com a revolução de Abril criaram-se condições excelentes para resolvermos problemas que afectavam grande parte da população portuguesa, porque tivemos um poderoso Sector Publico, podemos dizer que as alavancas ou se quisermos os sectores estratégicos para o desenvolvimento de qualquer economia estiveram na posse do Estado.
O Serviço Nacional de Saúde é provavelmente o expoente máximo das conquistas de Abril, as reformas, os contratos de trabalho, a Educação, a Cultura, a Actividade Desportiva, enfim ... o despertar para uma sociedade mais justa e mais dignificante para todos foram medidas que floresceram quando os Governos tinham fontes de receita provenientes de sectores fundamentais que produziam desenvolvimento e simultaneamente riqueza. Refiro-me à Banca, aos Seguros, ao Petróleo e aos Cimentos. São estas áreas pelo efeito que produzem na economia fundamentais para que exista um Estado Social (existe quem não goste desta expressão) em vez dum Estado Capitalista como o actual.
O Estado, refiro-me a Portugal, empobreceu com as Privatizações, enquanto o Grande Capital enriqueceu e o País tornou-se mais vulnerável e passou a ter mais dificuldade em gerir-se, o que provoca este alarido em torno do deficit orçamental e da divida pública, daí o facto de hoje sermos taxados em serviços que devia ser uma obrigação do Estado executá-los sem a cobrança de taxas.
Eu creio que as condições de vida adversas para os povos vão ainda atingir um patamar mais alto. Mas tenho a certeza que só a inversão destas politicas é que vai corrigir a degradação social em que o Mundo hoje vive.
As alavancas da produção e da riqueza devem estar nas mãos do Estado. Só um Sector Publico forte, capaz e rico, pode provocar desenvolvimento e riqueza.
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