quinta-feira, 15 de setembro de 2011

UM DOCUMENTO QUE APESAR DO TEMPO PASSADO TEM ALGUMA ACTUALIDADE

Porque me parece que ainda hoje tem alguma actualidade e porque há aqui números interessantes resolvi partilhar esta minha intervenção no Congresso do Futebol
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4º CONGRESSO DO FUTEBOL

Realizado em 25 e 26 de Abril de 1997
No Marina Hotel em Vila Moura - Algarve

Intervenção de Domingos Estanislau
Presidente do Clube Futebol Benfica



A IMPORTÂNCIA DO FUTEBOL AMADOR NO CONTEXTO
ACTUAL DO FUTEBOL NACIONAL
O Futebol Amador fazendo parte integrante do Futebol Nacional, não tem tido a devida correspondência nos vários domínios em função da sua importância.
Desenvolvendo uma acção meritória, quer no campo desportivo quer ainda no âmbito social, não pode nem deve ser menosprezado como tem sido até aqui.
Vive-se uma época mediática, à qual obviamente o futebol não é alheio e por isso as atenções estão mais centradas naquilo que vai acontecendo nos grandes clubes, no   dia a dia.
De facto, não devemos escamotear a importância que o futebol amador tem no contexto nacional e para chegarmos a esta conclusão basta só observarmos alguns dados significativos, os quais são bem demonstrativos dessa importância.
Assim;
Disputam os Campeonatos Nacionais Seniores 198 clubes, sendo
18 da 1 Divisão Nacional
18 de Divisão de Honra
54 da II Divisão B
108 da III Divisão
Neste escalão de Seniores, como é do conhecimento de todos, 162 clubes pertencem ao chamado futebol amador.
O futebol juvenil, também incluído no futebol amador, está organizado a nível de competição nacional em 3 categorias, ou seja, juniores, juvenis e Iniciados.
Das 168 equipas que disputam estes campeonatos, são 101 oos Clubes que estão representados nas três frentes, distribuídos da seguinte forma:
    16 pertencem à 1 Divisão Nacional
    11 pertencem à Divisão de Honra
    23 pertencem à II Divisão B
    18 pertencem à iii D                    
    33 pertencem aos Regionais

Não estão contempladas as equipas das Regiões Autónomas porque só entram nas fases finais dos respectivos campeonatos.
Verificando-se o gráfico que se segue, apenas como mera observação apercebemo-nos que apenas um clube da 1 Divisão Nacional não esta representado nas Competições nacionais do futebol juvenil.
Da 1ª Divisão Nacional - 12 clubes fazem o pleno ao disputarem os 3 campeonatos nacionais; 3 disputam o campeonatos em duas categorias e 1 apenas disputa uma das categorias.
Da Honra - são 5 os que fazem o pleno; 4 disputam o campeonato de duas categorias e 2 disputam apenas uma categoria.
Na 2ª Divisão B - são 2 que estão em todas as frentes; 13 disputam duas categorias e 8 competem numa categoria.
Na 3ª Divisão -  6 estão em duas frentes e 12 competem numa categoria
Dos Regionais - temos a competir nas 3 categorias; 2 em duas e 30 numa categoria.
(Nota: Campeonatos nacionais de Juniores, Juvenis e Iniciados, são estes os campeonatos a que nos referimos)
Na época de 1995/96 estavam inscritos em Portugal, em todas as categorias 90.000 jogadores, sendo 87.000 amadores e 3.000 profissionais.
1Divisão Nacional, tinha no inicio da época 453 jogadores inscritos:
- 84 estrangeiros
- 98 naturalizados (incluem-se neste número 42 naturais das ex-colónias
-  271 nascidos em Portugal

Dos 271 nascidos em Portugal:
- 105 iniciaram a sua actividade em clubes da  I Divisão
- 25 na Divisão de Honra
- 51 na II Divisão B
- 19 na BI Divisão
- 67 nos Distritais
Destes números resulta a seguinte observação:
- 48% são oriundos das equipas do futebol profissional
- 57 % são oriundos do designado futebol amador
Se quisermos ainda, a nossa observação poderá alargar-se até à própria Selecção Nacional e ai temos também um cenário amplamente favorável ao dito futebol amador, isto e, tomando como referência a Selecção que esteve no europeu de 1996, concluímos que 59% desses jogadores iniciaram as suas carreiras no futebol amador, destacamos apenas como exemplo os casos de João Pinto (Águias da Areosa), Paulo Sousa (Repesenses) e Cadete (Académica de Santarém).
Alguns dados aqui avançados revelam de forma eloquente o peso e a forma determinante que os Clubes do chamado futebol amador têm e agem na formação de novos talentos.
É bom também que se entenda que para além desse aspecto, se preze e considere, que são estes clubes que levam o futebol a todo o lado, o que quer dizer que prestam e desta forma também, um papel importante na divulgação do desporto rei por esse País fora e a verdade é esta: quanto maior for o número de adeptos mais força e naturalmente mais valorizado acaba por ser o futebol nacional.
A componente social também merece uma referência especial. É mais que obvio que todos estes clubes geram emprego dinamizam outras actividades e arrastam atrás de si muita gente que pela primeira vez tomou contacto com outras realidades ao sair da sua terra.
Não podemos deixar de destacar o papel importante que as Associações têm tido no desenvolvimento de todo o futebol nacional, no momento em que há muita gente a criticá-las e afrontá-las é bom que se reconheça que o mal está nalgumas pessoas que as representam e que por vezes servem outros interesses e desígnios que não têm nada a ver com o que estas devem representar. Apareceram ai uns protagonistas de última hora que se lembraram de dizer que tudo está mal por causa das Associações. É caso para perguntar que percebem essas pessoas da organização do futebol português?

Já demonstrámos a importância do futebol amador, com a apresentação de alguns números e pergunta-se portanto como era possível ter o futebol que temos se elas - Associações - não existissem? Ou julgarão os iluminados na matéria que pode existir futebol profissional sem o dito futebol amador?
Em Portugal existe muito o hábito de importar Modelos, mas na nossa perspectiva, em termos de futebol, não é possível qualquer adaptação aos Países mais fortes da Europa, por razões não só económicas mas também pela natureza dos nossos clubes, que são servidos por cidades pouco populosas em relação ao que se passa pela Europa fora. Basta que se analise o número de sócios que os nossos clubes da 1 Divisão têm, ou seja:
 - 50% dos clubes têm menos de 10.000 sócios
         - 22,2% dos clubes têm entre 10.000 e 20.000 sócios
         - 11,2% dos clubes têm entre 20.000 e 30.000 sócios
         - 16,6% dos clubes têm mais de 60.000 sócios
Agora juntemos a isto o número de habitantes das cidades às quais pertencem os mesmos:
- de 60.000 habitantes ......                          4 cidades
- Entre 103.000 e os 150.000 habitantes .......  5 cidades
              - Entre 150.000 e 180.0000 habitantes……….3 cidades
            + de 300.000 habitantes…………………………….1 cidade
      + de 600.000 habitantes .................................   1 cidade
Estas são as nossas realidades e é sobre isto que devemos discutir a problemática do futebol nacional.
Numa altura em que alguns pensam em reduzir o número de clubes, pensamos que isto representaria o atraso do nosso futebol, tal como dizia Aurélio Márcio, no Record de 7 de Fevereiro num artigo de opinião, acrescentando ainda "A destruição do Campeonato Nacional é um insulto aos pequenos clubes, que saíram do nada e chegaram ao Campeonato Nacional. Saíram do nada, chegaram ao top, lá se mantêm, com grande sacrifício. Sobem, descem, regressam, que mal tem isso?
São estas realidades que devem ser ponderadas para um melhor entendimento das grandes questões do futebol lusitano.
Outro aspecto que gostaríamos de focar aqui, é a questão dos Regulamentos. De facto assistimos quase todos os dias a situações discriminatórias relativamente ao futebol amador, pune-se violentamente sem apelo nem agravo. Multas pesadíssimas não se tendo em atenção a realidade dos clubes. Podíamos enunciar aqui alguns exemplos, mas seria complexo e moroso entrarmos nesta sessão por esses caminhos. Só dizemos é que para haver fomento no futebol, os clubes do futebol amador não podem ser penalizados da forma indiscriminada como de facto São.
O traquejo e a experiência dos árbitros, que se guindam mais tarde ao 10 plano, também tem a ver com este futebol, é aqui que eles começam e se formam, por isso destacamos também esta situação porque efectivamente esta é outra das contribuições que o futebol amador dá ao mundo do futebol.

Numa época em que proliferam outro tipo de desportos, mais motivadores para a juventude, é necessário, quem gosta de futebol, ter em atenção determinados factores. O futebol é o nosso mundo e ele deve ser discutido com clareza e livremente, seremos talvez poucos, ou melhor, nunca seremos demais para o discutir ate às últimas consequências.
DOMINGOSESTANISLAU
Presidente da Direcção do Clube Futebol Benfica

25.04.1997.


Nota: Os números aqui apresentados foram obtidos através dos censos eleitorais, da consulta aos clubes e em documentação da Federação Portuguesa de Futebol.




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