PEDRA BASILAR DO NOSSO DESPORTO - O ASSOCIATIVISMO
Enveredou-se, há uns anos atrás, por profissionalizar tudo e todos e os resultados não foram os esperados. Apareceram alguns que esperam sempre pela sua oportunidade para se projectarem e ficarem famosos, mas falta-lhes a experiência, o conhecimento que só a prática na acção forma o técnico, o artista ou neste caso concreto o dirigente desportivo.
O Desporto Português está em crise? É verdade! Mas esta verdade tem a ver com a falta de dinheiro, de incentivos, não com a qualidade e com os resultados desportivos alcançados internacionalmente.
Pelo seu mediatismo desportivo a imprensa aponta o futebol como bode expiatório, faz do futebol um mundo diferente em que nós vivemos. A crise é social, é cultural, é económica e é desportiva. Quem está atento às noticias sabe bem que a crise atinge o desporto em geral, tal como toda a sociedade, por isso verifica-se que há fábricas a fechar, empresas a encerrar, há desemprego e da mesma forma há clubes de futebol em extremas dificuldades e outros até a encerrarem as suas portas, mas isso acontece no andebol, no basquetebol, no ciclismo, no hóquei em patins,no atletismo e por aí fora.
Mas se quisermos aliviar esta carga de dizer mal de nós próprios não podemos estar alheios ao que se passa na Europa do futebol. Em Inglaterra em 2002/2003 fecharam 17 Clubes; Na Holanda 2 clubes estão à beira de fechar as portas; Em Itália registou-se uma redução de 20% nas assistências; Na Alemanha o futebol em 2001 teve uma redução de 40% das suas receitas. Estas e outras notícias chegam-nos todos os dias. Mas nós, em Portugal, apontamos os nossos erros, que existem obviamente, como se fossemos os únicos a praticá-los.
Claro está que o futebol por ser mais mediático, é a modalidade mais apontada, em que os comentadores vêem só defeitos. Nos dirigentes, nos árbitros, nos Clubes, na organização, Enfim …tudo está mal.
Os dirigentes não têm capacidade, não sabem, não percebem nada disto, etc etc. etc. Aceitemos todos que isto seja verdade. Mas quem é que organiza, quem é que fomenta os Clubes, quem é que mal ou bem arranja pouco ou muito para pagar a manutenção, os subsídios aos atletas? A crise é evidente e ninguém duvida que existe, mas existe na sociedade portuguesa também. Aliada, de facto, a outros factores, é bom não se esquecer que de um momento para o outro se formaram Ligas Profissionais sem terem em atenção a realidade do País e naturalmente dos Clubes.
Estas mesmas pessoas que agora continuam a criticar, por variadíssimas vezes defenderam a criação das SAD’S porque se tratava da salvação do futebol e do desporto, pois hoje, esses mesmos, atacam as SAD’S. Recordo com alguma tristeza que se dizia na altura que as SAD’S seriam uma forma responsável de dirigir o futebol ou outras modalidades. O resultado está á vista. É do conhecimento de todos o que aconteceu com alguns clubes que se “entregaram”, alguns desapareceram e outros vão por esse caminho. Escrevi em Junho de 1997 e já antes me havia pronunciado prevendo que não era a fórmula para salvar os clubes de futebol, muito embora, os defensores da ideia apregoassem aos quatro ventos que as SAD’s teriam uma gestão responsável e portanto vinham moralizar a gestão dos clubes. Em Portugal existem 3 ou 4 clubes com condições para o efeito, mas mesmo esses não têm apresentado resultados que me convencem que foi uma boa solução.
Não fora nada que eu não previra quando nasceu a ideia miraculosa de criar as Ligas Profissionais das várias modalidades. Deu-se início a um novo ciclo do desporto português, abandonando nalguns casos, mas significativos, o modelo associativo. O associativismo que foi e continua a ser a pedra basilar do nosso desporto, começou a ser desconsiderado e mal tratado. O resultado está á vista, não só no futebol, mas sobretudo nas modalidades consideradas amadoras até então. Estas estão hoje, dependentes do apoio financeiro de empresas que de um momento para o outro “fecham a torneira” passe o termo, e a modalidade extingue-se. Os Clubes apenas dão o nome e estão pois à mercê desta realidade.
Atrás refiro-me aos comentadores desportivos, aqueles que eu chamaria de fazedores de opinião, todavia, gostaria mais uma vez de voltar ao assunto para dizer o seguinte: raramente vejo pessoas que estão por dentro dos problemas a comentar futebol no que diz respeito à organização do mesmo. Futebol ou qualquer outra modalidade. Vejo é pessoas que nunca fizeram nada pelo desporto, sem serem apenas meros espectadores a comentar coisas para as quais não estão minimamente habilitados. Assistimos por vezes e com uma certa regularidade, a personalidades de outras áreas a reivindicar apoios do Estado para as suas actividades e a criticar o apoio do mesmo Estado para a área desportiva, afirmando inclusivamente sem qualquer pudor, que são os dinheiros públicos que estão em causa. Ou seja, para nós tudo bem, para os outros …
Sem comentários:
Enviar um comentário