sexta-feira, 1 de julho de 2011

UM DIA INESQUECÍVEL O 30 DE JUNHO

Dois acontecimentos importantes deram-se neste dia. O nascimento do meu filho Paulo e a libertação de um dos mais importantes sindicalistas deste País. Sim, Daniel Cabrita Presidente do Sindicato dos Bancários Sul e Ilhas, preso no Forte de Peniche, saiu em liberdade neste dia, sem que contudo, pelo meio sucedesse alguns episódios recambolescos, próprio do regime da altura. Vivia-se o ano de 1973. 
Lembro-me perfeitamente desse dia. Tinha pago 70 escudos par almoçar com o Cabrita e com muitos outros bancários que num gesto de satisfação e solidariedade havia sido  combinado um almoço em sitio desconhecido para que a PIDE não impedisse. Era sábado (trabalhavamos até ao meio dia). Tinha que me encontrar com alguém no Campo Pequeno para seguirmos, não sabia para onde. O segredo naqueles tempo era ouro. Apesar de todas as cautelas a PIDE descobriu o Restaurante, fechou a rua e proibiu o almoço. Só depois é que, tal como os outros, há excepção de uns quantos camaradas, que não passariam aí duns quatro, é que soubemos que o Restaurante era em Torres Vedras.
Como tudo se gorou, um pouco antes do meio dia, toca o telefone interno (estava  no Balcão da Av de Roma) a avisar que algo de complicado se passava com a saida do Cabrita e portanto deviamos seguir todos pró Sindicato. Tempos dificeis, mas que não nos impedia de lutar, sobretudo aqueles mais convictos e audazes. E lá fui eu para a Rua de S José, onde juntamos uma pequena multidão na procura de informações.  Cabrita não tinha saido às 9 horas, hora prevista para a soltura. O Patricio e o Caetano que se encontravam em Peniche, tentaram saber o que se passava e a informação que obtiveram é que só dariam informações à  família, os dois meteram-se no carro e vieram ao Barreiro buscar o pai do Cabrita (a mulher já havia sido assassinada pela PIDE)  e seguiram novamente para Peniche, chegados a Penhice informaram que tinha sido transferido para a António Maria Cardoso, chegados aqui o agente de serviço disse que estava em Caxias, toca a ir para Caxias e aqui indicaram novamente a Antonio Maria Cardoso. Era assim, que o regime funcionava. A PIDE servia para isto, para fazer sofrer os cidadãos. O Cabrita  chegou ao Sindicato por volta da meia noite. E eu cheguei a casa por volta das 15 horas e a minha mãe ansiosa esperava à janela para me dar a feliz noticia, era pai de um menino, claro não havia telemóveis e só se sabia o sexo quando se dava o nascimento. Os tempos são outros, claro que o fascismo nunca mais terá lugar, mas algumas conquistas que o 25 de Abril nos trouxe, têm vindo a ser retiradas: Adivinham-se tempos muito dificeis, mas o povo encontrará o rumo do progresso como encontrou com a queda da ditadura.

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